Por que a fenomenologia?
Vivemos em um tempo em que a objetividade, a padronização e a busca por controle sobre o real parecem dominar os campos do saber. Na contramão desse movimento, a fenomenologia propõe um outro olhar ao ser humano: um modo mais sensível, comprometido e respeitoso com a singularidade da existência de cada pessoa.
Nem toda dor precisa ser diagnosticada. Algumas só pedem escuta atenta
A escuta fenomenológica não julga, nem classifica, busca compreender a experiência tal como ela é vivida, com suas contradições e ambivalências.
O analisando não se reduz a objeto de análise. É alguém que vive, sofre, sonha, sente e deseja ser compreendido.
É dar espaço para escuta atenta, o não julgamento, a suspensão das certezas e a abertura para aquilo que se revela no encontro.
O que fazemos, então, em terapia?
Nosso foco não está em estruturas psíquicas ou mecanismos internos, mas na forma como a pessoa está no mundo, nos sentidos que ela atribui à sua própria vivência, no modo como habita sua história, suas relações e seus afetos. Rompendo com a centralização em diagnósticos ou classificações, não havendo tentativa de enquadramento do singular em modelos prontos.
A terapia é, portanto, um espaço ético de encontro — onde compartilho, com seriedade e presença, a travessia complexa, arriscada e transitória que é existir. Como terapeuta, não detenho respostas, mas caminho junto, com escuta e cuidado, atenta ao fenômeno vivo que se apresenta ali, no corpo, na fala, no silêncio.
Existir é vir-a-ser
Em terapia, estou diante de histórias que se fazem momento a momento, carregadas de memórias, dores, potências e possibilidades. Ser terapeuta nesse campo é abrir mão do conforto das certezas e se dispor a estar com o outro na sua busca por sentido — mesmo quando tudo parece confuso, incerto ou fragmentado.
A psicoterapia não é um conserto, mas um cuidado com a liberdade e com o sentido de existir. É um convite para que você possa se ver, se compreender e, quem sabe, se transformar, à sua maneira, no seu tempo.
Fenomenologia Daseinsanalítica:
escuta, presença e singularidade
Na minha prática como psicóloga clínica, trabalho com a abordagem fenomenológica daseinsanalítica, fundamentada na filosofia existencial e fenomenológica, que compreende a existência humana como um fenômeno único e singular.
Nessa perspectiva, entendemos a experiência humana como Dasein (em alemão, Dasein = ser-aí) — busca compreender como o ser humano está no mundo. Ou seja, como a pessoa experiencia, sente, se relaciona e compreende a si mesma e o mundo ao seu redor. Valoriza a experiência subjetiva no aqui e agora. Em que corpo, mente, afetos são inseparáveis e formam uma única trama de sentido.
Busca ampliar a consciência e a liberdade do indivíduo em seu modo de ser-no-mundo. Tendo em vista favorecer que se torne mais transparente para si mesmo.
Reconhecendo o sofrimento como parte da existência e não como algo a ser “corrigido”. Trata-se de caminhar junto, construindo uma relação terapêutica horizontal, focada na presença, autenticidade e na possibilidade de escolha e transformação.
Enquanto as coisas apenas são, o ser humano existe: e essa existência é marcada por escolhas, angústias, contradições e pela constante possibilidade de transformação.
